Já disponível em todas as plataformas digitais, a canção “Cabelo Bom”, do cantor, compositor e teólogo LUZ, assinada pelo Selo Ventania. A canção é a tradução de sua própria história, a música traz em suas melodias frases comuns ouvidas por pessoas negras dentro das igrejas.
O primeiro verso da canção — “me disseram que no céu o meu cabelo vai ser bom” —, sozinho, já diz a que veio. Mas LUZ tem muito mais a dizer. Refletindo sobre diversas ideias e frases racistas que permeiam a cultura brasileira (e cristã). O artista desafia a estética padrão eurocêntrica do cristianismo ocidental, não apenas na letra, mas pelo arranjo musical em si e até mesmo na arte de capa.
Ouça CABELO BOM em todas as plataformas de música.
Esse tipo de violência simbólica vem carregada do racismo à brasileira. “Um racismo escondido por trás do mito da democracia racial: no Brasil somos todos muito acolhedores e miscigenados, logo, não tem como sermos racistas”, comenta o cantor. Esse discurso se reproduz no ambiente religioso cristão, num formato que a pesquisadora Diná da Silva Branchini aponta como o mito da irmandade cristã.
Frases como “somos todos filhos de Deus” e “Deus não faz acepção de pessoas” são usadas fora de contexto como justificativa para o silêncio cristão diante do racismo reproduzido nas igrejas.
Seus parceiros na produção da faixa — Estêvão Queiroga, produção artística, e Yuri Costa, produção musical — ajudaram a trazer essa estética que desafia o que todos esperam da música de um artista cristão.
“Recebemos o projeto há muito tempo, mas não tivemos pressa. Essa mensagem vai chegar a quem precisa no tempo dela, e o momento enfim chegou! A identificação e acolhimento à proposta do projeto foi imediata por parte de toda a equipe do Ventania. Para os nossos artistas que compartilham das mesmas vivências LUZ, a composição foi a tradução de sentimentos guardados e isso nos emocionou muito. Para os outros “Ventaniers”, que talvez não tenham passado por racismo, essa produção foi uma aula de inovação, arte e composição. Mas muito mais do que isso, entendemos essa música como um motivador de mudanças entre os artistas, a forma de fazer música e o quanto precisamos valorizar a diversidade.” informa Jacqueline Palheiro.
“Em junho deste ano viralizou uma notícia sobre um jovem chamado Pedro Henrique, barrado de cantar dentro de uma igreja protestante em Goiânia por conta do seu cabelo. Essa discriminação se manifesta de várias formas, desde violências mais explícitas, como o caso do Pedro Henrique, ou através de falas e brincadeiras “inocentes”, em relação à estética afro, contra o cabelo natural/crespo, tranças e dreadlocks. E vai além: aspectos culturais como gêneros musicais e representações visuais na arte cristã que assumam uma estética afro também são alvo de discriminação.” aponta LUZ.
Esse desafio proposto não é apenas uma crítica, mas é também uma forma de abraçar uma parcela dos próprios cristãos que possam ter se sentido deslocados em suas igrejas por causa dessas questões. Mais do que uma denúncia à intolerância vista nas igrejas brasileiras, “Cabelo bom” é uma proposta de diálogo que mostra que, apesar do cenário atual, existe uma parcela do cristianismo brasileiro que está preocupada em construir uma sociedade mais tolerante e inclusiva.
Fonte: Assessoria
Imagem: Divulgação